.... continuação!
- Ah, qual é? Eu não sei o que você pensa das suas, mas as minhas férias estão um tédio! Vamos lá! Um pouquinho de suspense não vai fazer seu coração parar - incitei-a.
Por um momento, achei que tivesse que corrigir minha última frase: ela tremiam tanto que suas pernas estavam moles e tive a impressão de que seu sangue congelaria em suas veias e pararia de circular. Mas ela me olhou nos olhos, apontou o dedo para mim e me disse tentando parecer séria:
- Se eu morrer de medo, Claire, no sentido mais literal da expressão, eu volto do onde eu estiver para te arrastar para lá comigo!
Eu só consegui rir de sua reação. Ela não fazia do quanto ela era hilária quando tentava ser firme. - Vamos então!
Peguei seus punhos gelados e a puxei para trás do prédio do refeitório, de onde as sombras haviam saído.
Mas, depois que avançamos, perdi novamente meus alvos. As coisas estavam como deviam estar; não havia pegadas no chão, não havia o estalar de nenhum galho seco, nem o vento estava soprando. Apenas a aura estava mudada: em vez da calmaria que deveria prevalecer na madrugada, havia um clima tenso, pesado, uma sensação que dificultava a respiração. Se eu nao tivesse reparado bem, não perceberia que a água do lago formava pequenas ondas. Engraçado, pensei comigo mesma, não estava ventando. Foi quando senti o toque de Evie no meu braço esquerdo, a outra mão apontando para a outra margem do lago, para uma pequena embarcação de três pessoas. Um ponto de luz muito pequeno agora era visível e tive que reconhecer que sem um bote não conseguiríamos chegar ao outro lado.
Girei em meus calcanhares, olhei para minha amiga medrosa e falei:
- Amanhã. Eles não nos escapam.
E vi que seus olhos rolaram de desânimo ao entender que ela, mais uma vez, estaria incluída no plano.
Capítulo 2
Tudo estava muito calmo, eu até comecei a achar que eu tinha mesmo imaginado as manchas negras do lado de fora naquela noite. Mas eu não estava disposta a voltar para o quarto e ter que reconhecer à Evie que eu tinha me precipitado. Isso estava fora de cogitação! Já me bastava sua cara emburrada ao meu lado, implorando para voltarmos, a expressão nitidamente medrosa.
Eu já estava curiosa demais e não ia descansar enquanto eu não descobrisse o que estava acontecendo de anormal naquele clube de férias. Passei uma semana insone, roendo as unhas de ansiedade para descobrir o suposto mistério e, agora que eu tinha uma companheira - mesmo que bicuda - comigo, eu não ia tentar me convencer da minha possível insanidade e deixar uma aventura passar.
Já havia mais ou menos uns 40 minutos que estávamos andadando a esmo pelo terreno e a insistência de Evie para deixarmos para o próximo dia nossa varredura estava quase começando e me vencer pelo cansaço. Eu disse quase.
Como se estivesse nos vigiando, um vulto atrás do refeitório passou por nós deixando para trás um rastro de vento frio e desconforto. O frio que eu vinha sentindo durante a semana anterior estava tomando conta de mim de novo e eu estremeci. Olhei para o lado para ver a reação de Evie e eu nunca vi alguém com os olhos tão arregalados como os dela estavam. E devo acrescentar que - como ela conseguiu essa proeza? - ela estava mais branca que eu. Ela não conseguia formar frases coerentes.
- O q-que fo-o-i aqui-i-lo? - ela gaguejava.
- Agora você acredita? - perguntei com um sorriso repuxado, sentindo o doce gosto do perigo.
...continuação!
O sol saiu mais ou menos depois do almoço, quando finalmente tínhamos duas horas livres para fazermos o que bem entendêssemos antes de voltarmos aos horários programados, e tive a companhia de minha nova melhor amiga para deitar na grama de um dos jardins e presentear minha pele translúcida com um pouco de vitamina D. Pela terceira ou quarta vez, perguntei a ela se não ouvira nem vira nada de estranho à noite enquanto tentava pegar no sono, e resolvi contar sobre as sombras esguias que atravessavam a janela de nosso dormitório. Não era possível que só eu conseguia enxergá-las! Se era para voltar para casa louca, eu não queria ser a única a ser devolvida com defeito aos pais. Mas, durante minha conversa com Evie, reparei que aquele lugar se apresentava mais esquisito para mim do que para qualquer outra pessoa alojada. Os problemas de adaptação de minha vizinha de cama nada diziam respeito ao quarto sombrio ou ao ranger agourento das portas, ela simplesmente não se ajustava, porque, com certeza, o colchão de sua casa era eternamente mais macio e ela sentia falta de seu namorado - o qual ela sempre citava. Como eu não tinha deixado ninguém me esperando na minha cidade, eu não gostava do lugar porque ele mes assustava mesmo. Tomei uma decisão: se as sombras aparecessem de novo, chamaria Evie e ele então veria que meu cérebro não estava fora de sintonia.
Ao final da tarde, quando fomos dispensadas para os dormitórios, fui a primeira a tomar banho para poder lavar meu cabelo, sujo de grama. Li um dos livros que trouxe de casa e esperei pela hora de dormir. O fato de as três manchas escuras não ter aparecido ontem, não significava que elas não apareceriam de novo. Quando vi que as luzes vermelhas do relógio indicavam dez horas da noite, guardei o livro e fiquei à espreita. Quando meus olhos já não estavam mais aguentando ficar abertos, alguma coisa se moveu do lado de fora. Dei um pulo na cama.
- Evie, acorda! - sussurrei e ela se virou.
- Que horas são?
Olhei para o relógio e informei que faltavam quinze minutos para meia noite. Ainda estava muito cedo para as sombras voltarem a me atormentar; na semana anterior elas haviam respeitado um horário rigoroso, saindo de onde quer que tenham saído só depois das três horas da manhã. Me dei conta de que talvez eu não as tivesse visto ultimamente não porque elas não tivessem aparecido, mas pela simples possibilidade por elas já terem passado pela minha janela enquanto eu dormia.
- Você não está mesmo pensando em sair porta afora nessa escuridão para seguir uma coisa que só você vê, está? - perguntou Evie, agora com os olhos arregalados.
- Mas é lógico! - respondi.
- Claire, você é louca! E anote: se nos pegarem rondando por aí a esta hora, - ela estremeceu - juro que te jogo no lago amanhã de manhã!
- Tente, eu sei nadar! Haha. - disse, com um tom forçado de desdém.
Nos levantamos da cama, pegamos uma lanterna que estava guardada no criado mudo, calçamos nossos sapatos e saímos para a escuridão.
Continua... cap. 2!